quarta-feira, 30 de março de 2016

pensando sobre os objetos

Em relação a aula do dia 17/03, na qual foi pedido a nós, alunos, para que levássemos algum objeto que nos representasse, ocorreu o que seria mais provável: todos, inconscientemente, ficaram atrelados às lógicas causalísticas e finalísticas e não à lógica programática do entendimento flusseriano (lógica do absurdo, do acaso). Meu objeto apresentado foi um cabo USB, que partindo da sua utilidade mecanicista, ou seja, da forma causalística - conectar aparelhos celulares a computadores, por exemplo -, relaciona-se com a forma finalística, de modo a evidenciar uma ideia de conexão.

Nesse contexto de conectividade, chamei a atenção para as pessoas com quem me relaciono (amigos, por exemplo) e a união que é estabelecida entre elas e essa ponte de ligação metaforicamente representada pelo cabo, que no caso sou eu. Além disso, as outras ligações que fiz tiveram propósitos finalísticos, como a que fiz com o mapa da cidade de Belo Horizonte, o qual representa minha conflituosa sensação atual num local completamente novo: um sentimento de liberdade ao mesmo tempo que caminho preso a um pedaço de papel ou ao Google Maps, programa de localização por mapas.

A segunda ligação, mais abstrata, mostra algo que me representa como pessoa (um "pulo" bem alto para longe da lógica programática): um pedaço de papel completamente em branco, no qual alguém pode escrever, pintar, desenhar, rabiscar da forma que quiser. É dobrável, maleável, mas se rasga se não for usado com cuidado.

Além dessa discussão e tentando retornar ao assunto da lógica programática, deixo aqui algumas considerações. Para que haja uma relação programática entre os objetos devemos considerar o cabo USB como estrutura, assim como alguns projetos arquitetônicos são descritos no livro Lições de Arquitetura, de Herman Hertzberger (devem ser flexíveis e libertários, mas ao mesmo tempo não pode se deixar levar pela arbitrariedade, pelo caos). Por fim, pensar os objetos a partir de sua materialidade é algo importante, e até no baralho - se considerado como lógica programática - há um limite que pode ser observado na quantidade máxima de números e na diferenciação de tipos de cartas, não deixando assim ser possuído pelo caos, o que não impede que a lógica programática ocorra ao acaso.

domingo, 20 de março de 2016

o conjunto arquitetônico da pampulha

Antes de mais nada, essa pesquisa foi feita em trio com os colegas Rogério Ribeiro e Rafaela Regina.


Os princípios de Le Corbusier
Resultado da pesquisa publicada pela revista L'Esprit Nouveau em 1926, Os Cinco Princípios da Arquitetura Moderna, de Le Corbusier, representam conceitos estéticos e formais que tem por finalidade proporcionar mais liberdade no processo de criação arquitetônica. São eles:
  • Terraço Jardim: transferência da área de lazer para o terraço.
  • Fachada Livre: independência da fachada como elemento estrutural, podendo ser utilizado material vazado, vidro ou mesmo vão aberto.
  • Janelas em Fita: consiste na cobertura da fachada por um conjunto de janelas, sem afetar a estrutura do projeto.
  • Planta Livre: consiste na criação de uma estrutura que permita a livre locação de paredes, uma vez que elas não mais funcionam como elemento estrutural.
  • Pilotis: sistema de construção baseado na utilização de pilares.
Tais princípios serviram de base para o estilo modernista, ganhando tamanha notoriedade que se tornaram influência para grande parte das obras do arquiteto Oscar Niemeyer, em especial para o Complexo da Pampulha, em Belo Horizonte.


O Complexo da Pampulha
Formado por cinco edificações principais e um lago artificial, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha foi responsável por alavancar a noturna circulação de pessoas (em especial, as elites) numa região antes pouco povoada da cidade na década de 40 (conformando assim um ambiente de status), que coincidia com o período da crescente industrialização brasileira concentrada no sudeste do país. Essa época também é enormemente influenciada pelo modernismo brasileiro, que encontra em Belo Horizonte um espaço ideal para se desenvolver, tornando intrínseca a relação do movimento com o Complexo.

"Era um protesto que eu levava como arquiteto, de cobrir a igreja da Pampulha de curvas, das curvas mais variadas, essa intenção de contestar a arquitetura retilínea que então predominava" disse Niemeyer sobre a obra na Pampulha. Além disso, a utilização dos pontos de Le Corbusier marca todo o projeto, sem contar a época do Estado Novo, tempo em que a construção de um Estado Nacional, ideologicamente e politicamente forte, necessitava de uma nova arquitetura que refletisse a vontade de modernização do país.



Construção da Igreja de São Francisco de Assis, umas das edificações do Conjunto da Pampulha. Nela, Niemeyer aproveitou a plasticidade do concreto para inovar na criação da capela, a qual inicialmente foi mal recebida e recusada pela Igreja Católica.



A casa do baile, como o próprio nome diz, foi construída para entreter as pessoas da região com apresentações artísticas diversas para o lazer noturno, com apresentações musicais e danças. Como pode ser observado, um dos elementos que mais chama atenção é a marquise solta e curva que conduz até a entrada do prédio (situada, inclusive, numa ilha que está ligada apenas por uma ponte, diferentemente do local das outras projeções que lembra um certo tipo de península). Apesar disso, após o fechamento do Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha), a Casa do Baile encerrou suas atividades, e só retornou em 2002, dessa vez como Centro de Referência para Arquitetura, Urbanismo e Design.










Construído inicialmente como Iate Golfe Clube, o Iate Tênis Clube foi construído como um lugar para a prática de esporte e o entretenimento da população. A sede do iate possuí forma de um barco, que se lança pelo espelho d'água. Em 1960, a prefeitura decidiu vender o imóvel para arrecadar dinheiro e financiar obras.














O Cassino, atual Museu de Arte da Pampulha, foi a primeira construção a ser desenhada, sendo entregue em 1942. Planejada originalmente como uma construção única, o projeto ganhou nova magnitude após reuniões de Niemeyer com o então prefeito Juscelino Kubitschek, que propôs a criação de um bairro residencial de alto nível acrescido dos projetos que hoje formam o Complexo Arquitetônico. A proposta de Niemeyer foi de uma luxuosa casa de jogos moderna que tira proveito máximo de seu local de implantação.

O projeto conta com forte influência da arquitetura modernista, sendo projetada em concreto armado com o uso de pilotis e planta livre. A criação de uma fachada livre com o uso de janelas em fita também contribui para o diálogo entre as áreas interior e exterior, proporcionando uma atmosfera convidativa e reforçando a elegância da construção.

Ocupou a função de Cassino até 1946, ano em que o jogo se tornou ilegal. Após alguns anos de fechamento, a obra retomou-se como o atual Museu da Arte, servindo não só como exemplo integral de mobilidade do projeto como também abrigando obras e exposições de destaque da arte contemporânea. 

quarta-feira, 16 de março de 2016

museu de arte da pampulha e o croqui

Chamo a atenção para os três objetos arquitetônicos que observei de escalas diferentes. O menor de todos, a pedra em que eu estava sentado observando a paisagem, não possuía aspecto interessante e relevante para desenhar. O objeto médio, a escultura de duas mulheres se abraçando no jardim, continha um enorme conteúdo artístico e densidade arquitetônica, porém, devido às suas formas arredondadas e ao pouco tempo disponível para o desenho, acabei evitando-a. O terceiro e maior é a escada que decidi desenhar por alguns motivos. Primeiramente, seria um desenho reto e mais fácil. Segundo, utilizei um ponto de fuga na altura dos meus olhos (no meio da linha do horizonte), podendo assim fazer as linhas paralelas de baixo da escada convergir na direção dele (assim como ocorria na minha visão). Admito que não consegui evitar a escultura na composição do croqui, pois tinha a sensação de que algo estava faltando na imagem.


domingo, 13 de março de 2016

arquitetura versus vestuário

Digamos que a diferença maior entre ambos está na síntese de suas funções. Enquanto considerarmos a arquitetura como espaço privado para nós, sua função é quase exclusivamente nos encantar. Já o vestuário, sendo privado, acaba tendo a função de encantar as pessoas e não somente a nós. Os dois são produtos de um meio social, e inclusive, são ferramentas que procuram oferecer segurança aos humanos. Além disso, ambos surgem como uma tentativa de nos encaixar de algum lugar na sociedade. Acredito eu que há muito mais semelhanças entre arquitetura e vestuário do que diferenças, por isso, não consigo finalizar plenamente essa discussão.

sábado, 12 de março de 2016

animação cultural, de vilém flusser

Texto escrito em sala (sem alteração)
O texto mostra a reflexão de uma mesa-redonda, ao dar ênfase na relação homem-objeto e mostrar o quanto o homem depende deles, já que eles têm a função de animar a humanidade. As ideias presentes, permitem a reflexão dessas relações de dependência do homem, mostrando o quão importante a relação se tornou no momento em que a Objetividade superou a Animalidade. O valor da arte se encaixa nesse contexto, pois a medida que "certos aparelhos tomam o poder" , a arte vai se perdendo, perdendo lugar para novos aparelhos autoprogramados (a elite objetiva). Como a mesa afirma, a Revolução e os direitos que os objetos querem é nada mais que a inversão da relação homem-objeto. Em suma as ideias que permeiam o texto são sobre uma relação de opressão e repressão, devido ao poder "repressor" exercido pela humanidade sobre os objetos, necessitando alteração. A forma como se comporta a mesa e os objetos, que lutam por direitos, mostra uma interligação com a humanidade.

Texto complementar após releitura e complementação de colega
Iniciando como um tipo de convocação feito por uma mesa-redonda a seus companheiros objetos, o texto flui em um tom reflexivo e ao mesmo tempo autoritário, capaz de fazer sentirmos estar lendo algo como "1984", livro distópico escrito por George Orwell, pela persistência do "camaradismo" presente em todo texto e, principalmente, pela ideia de controle, como a Rafaela explicou em seu texto, de quem é controlado e quem controla (algo como repressão e opressão, ou não, -fica o debate-). Ao mesmo tempo em que os objetos tentam se livrar, através de uma Revolução, das ações repressivas da humanidade, há uma tentativa de mostrar a superioridade da objetividade em relação à animalidade ao fazer uma alusão à cultura ocidental e sua religião predominante, onde o mito do surgimento da humanidade - o barro -, através de um deus, ganha destaque no discurso da mesa-redonda e tem-se como verdadeiro pela mesma. Considerando que esse mito, seja de verdadeiro ou não, foi criado pela humanidade, fica evidente a intrínseca relação que existe entre o humano e o objeto.

Faço aqui um contraponto ao meu próprio texto escrito em sala: não apenas a humanidade depende da objetividade, mas também o contrario é evidente: a finalidade dos objetos é programar a humanidade, e a humanidade, dar sentido aos objetos. Há também a alusão aos processos históricos das Revoluções Industriais ocorridas no ocidente, nos séculos XIX e XX , quando as ciências começaram a se tornar subordinadas à cultura objetiva e ao surgimento das máquinas e aparelhos autoprogramados (estes, considerados a elite objetiva e que vêm ganhando destaque na modernidade, podem também, refletir, como linhas paralelas que se encontram no infinito, a atualidade humana e a desigualdade contemporânea), que acabaram por trazer, junto a essa "evolução", uma desvalorização da arte, como pode ser observado no trecho: "A tomada do poder por certos aparelhos na cena política já conseguiu em ampla medida, eliminar os valores do terreno da sociedade."

Dessa forma, a relação humanidade-objeto continua a ser interligada e paralela, e é inconscientemente identificável pela mesa-redonda em: "É difícil, para os objetos, assumir atitude objetiva perante os objetos, como é difícil para os homens assumir atitude humana perante os homens."